Estaremos felizes, talvez, curiosos em relação aos novos tempos, gratos por termos sobrevivido às guerras, pestes, secas e tempestades. Viveremos a utopia da distopia cultivando nossos jardins subterrâneos, observando a beleza das formas naturais, de qualquer nova surpresa ou manifestação da vida. Não posaremos para as fotos com sorrisos no rosto. Também não viajaremos tanto. Mas nas ruínas do que hoje é o presente, tampouco haverá muita coisa para ver. Talvez no futuro sejamos todos meio hippies e cientistas, mas hippies cientistas calejados pela calamidade e pela barbárie. Nos meus sonhos noturnos, aos oitenta e um anos de idade, imaginarei um mundo novo para o meu neto, com fragmentos da minha própria infância num remoto século XX. Meu neto que poderá, talvez, respirar um ar fresco ou encontrar a grama coberta de orvalho quando chegar aos oitenta anos, em 2100. Já não veremos as geleiras ou as neves eternas em milhares de anos, mas ao menos, quem sabe, as novas crianças poderão inspirar um pouco da árvore que plantamos.
“Construído de um jeito bem-bolado de erudição e fluidez, este ensaio de Tiago Novaes leva o leitor a cruzar um oceano de variadíssimos dados, lembranças, pensatas e sensações em torno de questões de extrema relevância para a humanidade hoje, sem deixá-lo atônito ou fatigado. É um convite para refletir e, sobretudo, agir antes que seja tarde, tanto no âmbito individual quanto coletivo.”
Joselia Aguiar, jornalista, escritora, biógrafa e historiadora brasileira, sobre “Baleias no Deserto”
Baleias no Deserto: o corpo, o clima, a cura pela terra é a oitava obra do escritor Tiago Novaes, que já publicou o livro de contos “Subitamente: agora” (7Letras) e os romances “Dionísio em Berlim” (Quelônio), “Os amantes da fronteira” (Dobra), “Estado Vegetativo” (Callis) e “Documentário” (Funarte).